sexta-feira, 23 de outubro de 2009

CURSO NORMAL

Um passo à frente

Benílson Sancho

Diretor-adjunto do IEPIC

O Curso Normal, em função da própria legislação que ameaça invalidar sua existência, é hoje motivo para muita polêmica. Se, por um lado, seus algozes exigem o Diploma Superior como selo de qualidade profissional, por outro, o time de casa possui bons argumentos para não arredar o pé da Educação.

Segundo Benílson Sancho, diretor-adjunto e diretor de projetos da primeira Escola Normal da América Latina - o Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho (IEPIC) -, a formação do educador não pode mesmo se esgotar no Ensino Médio, mas eliminar essa etapa inicial compromete a qualificação lá na frente.

“Nós estamos convencidos de que a formação do professor em nível superior é essencial, mas o Ensino Médio Normal é um primeiro degrau neste processo. O normalista começa a tecer a discussão pedagógica mais cedo e, quando chega à faculdade, possui um diferencial para já alçar um voo maior”, defende o diretor.

“Como dizia Paulo Freire, ‘nós somos educadores educandos’ e o bom profissional está em contínuo aprendizado. Mas é importante entender também que o aluno que cursa o Ensino Médio regular e ingressa diretamente na Pedagogia fica com a formação defasada”, completa.

Portas abertas para o mundo

A Escola Normal não só desenvolve o senso crítico e o posicionamento do aluno diante do grupo, mas a própria prática em sala de aula amplia o seu repertório de possibilidades. O normalista costuma falar em público com muita naturalidade, articulando bem os pensamentos, por um único motivo: a força do hábito.

“Nós tivemos uma estagiária aqui no IEPIC que veio do curso de Psicologia, e ela tremia feito uma vara. Nós tivemos que acalmá-la. No Ensino Normal, como começamos a praticar desde o 2º ano, adquirimos experiência com crianças, metemos mesmo a cara e ralamos para elaborar uma proposta pedagógica criativa. É lógico que, na primeira aula, vamos ficar nervosos. A gente treme, gagueja muito, sem falar que estamos na frente de 30 alunos e a professora no fundo da sala avaliando. Mas quando chegamos à faculdade tudo parece bastante natural. Hoje tem estágio, então “vambora”! Você já tem o costume”, explica a aluna do 2º ano, Alessandra Gonçalves.

Ao que consta da admissão nos Institutos de Educação, a demanda pelo Curso Normal existe. Bem como o seu diferencial: jovens que completam a formação de professores em nível médio apresentam consciência pedagógica, além de uma postura mais madura perante a vida e o mercado de trabalho. Neste ponto, parece mesmo que a prática de estágios, monitorias e seminários, além de uma grade curricular diferenciada, auxiliam bastante. Mas, afinal, como fica o Instituto formador de gerações críticas e transformadoras da realidade? A pergunta está em aberto.

Para Sancho, o caminho dessas tradicionais instituições que formam milhares de professores de Ensino Fundamental todo o ano precisa ser discutido em parceria.

“Existe hoje uma demanda enorme de alunos em busca dessa formação, mas docentes, alunos, comunidade escolar e poder público precisam sentar juntos para discutir e buscar uma saída. Qual é o nosso futuro? Essa reposta precisa ser construída coletivamente. A gente está precisando sentar para discutir e encontrar um caminho”, sugere o educador.

Site: Conexão Professor

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