A Educação Infantil tem por finalidade “favorecer o
desenvolvimento infantil nos aspectos, motor, emocional, intelectual e social,
contribuindo para que a interação e a convivência na sociedade seja produtiva e
marcada por valores de solidariedade, liberdade, cooperação e respeito”
(Política Nacional de Educação- MEC 1994).
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil
EDUCAR
Nas últimas décadas, os debates em nível nacional e
internacional apontam para a necessidade de que as instituições de educação
infantil incorporem de maneira integrada as funções de educar e cuidar, não
mais diferenciando nem hierarquizando os profissionais e instituições que atuam
com as crianças pequenas e/ou aqueles que trabalham com as maiores. As novas
funções para a educação infantil devem estar associadas a padrões de qualidade.
Essa qualidade advém de concepções de desenvolvimento que consideram as
crianças nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e, mais
concretamente, nas interações e práticas sociais que lhes fornecem elementos
relacionados às mais diversas linguagens e ao contato com os mais variados
conhecimentos para a construção de uma identidade autônoma.
A instituição de educação infantil deve tornar acessível a
todas as crianças que a frequentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que
enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social. Cumpre assim um papel
socializador, propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por
meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação.
Na instituição de educação infantil, pode-se oferecer às
crianças condições para as aprendizagens que ocorrem nas brincadeiras e aquelas
advindas de situações pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas
pelos adultos. É importante ressaltar, porém, que essas aprendizagens, de
natureza diversa, ocorrem de maneira integrada no processo de desenvolvimento
infantil.
Educar na Educação Infantil significa, portanto, propiciar
situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma
integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades
infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude
básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos
conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a
educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e
conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e
éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e
saudáveis.
CUIDAR
Contemplar o cuidado
na esfera da instituição da educação infantil significa compreendê-lo como
parte integrante da educação, embora possa exigir conhecimentos, habilidades e
instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica. Ou seja, cuidar de uma
criança em um contexto educativo demanda a integração de vários campos de
conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas.
A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a
se desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a
desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio
que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos.
O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados
relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos
biológicos do corpo, como a qualidade da alimentação e dos cuidados com a
saúde, quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades
de acesso a conhecimentos variados.
As atitudes e procedimentos de cuidado são influenciados por
crenças e valores em torno da saúde, da educação e do desenvolvimento infantil.
Embora as necessidades humanas básicas sejam comuns, como alimentar-se,
proteger-se etc. as formas de identificá-las, valorizá-las e atendê-las são
construídas socialmente. As necessidades básicas, podem ser modificadas e
acrescidas de outras de acordo com o contexto sociocultural. Pode-se dizer que
além daquelas que preservam a vida orgânica, as necessidades afetivas são
também base para o desenvolvimento infantil.
A identificação dessas necessidades sentidas e expressas
pelas crianças depende também da compreensão que o adulto tem das várias formas
de comunicação que elas, em cada faixa etária possuem e desenvolvem. Prestar
atenção e valorizar o choro de um bebê e responder a ele com um cuidado ou
outro depende de como é interpretada a expressão de choro, e dos recursos
existentes para responder a ele. É possível que alguns adultos conversem com o
bebê tentando acalmá-lo, ou que pegue-o imediatamente no colo, embalando-o. Em
determinados contextos socioculturais, é possível que o adulto que cuida da
criança, tendo como base concepções de desenvolvimento e aprendizagem infantis,
de educação e saúde, acredite que os bebês devem aprender a permanecer no
berço, após serem alimentados e higienizados, e, portanto, não considerem o
embalo como um cuidado, mas como uma ação que pode “acostumar mal” a criança.
Em outras culturas, o embalo tem uma grande importância no cuidado de bebês,
tanto que existem berços próprios para embalar.
O cuidado precisa
considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando
observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a
qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam
seguir os princípios de promoção à saúde. Para se atingir os objetivos dos
cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades
humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseados em
conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento biológico, emocional, e
intelectual das crianças, levando em consideração as diferentes realidades
socioculturais.
Para cuidar é preciso
antes de tudo estar comprometido com o outro, com sua singularidade, ser
solidário com suas necessidades, confiando em suas capacidades. Disso depende a
construção de um vínculo entre quem cuida e quem é cuidado.
Além da dimensão afetiva e relacional do cuidado, é preciso
que o professor possa ajudar a criança a identificar suas necessidades e
priorizá-las, assim como atendê-las de forma adequada. Assim, cuidar da criança
é, sobretudo dar atenção a ela como pessoa que está num contínuo crescimento e
desenvolvimento, compreendendo sua singularidade, identificando e respondendo
às suas necessidades. Isto inclui interessar-se sobre o que a criança sente, pensa
o que ela sabe sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação deste conhecimento
e de suas habilidades, que aos poucos a tornará mais independente e mais
autônoma.
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