Magda Soares discute princípios pedagógicos da alfabetização e a
importância do letramento no ensino da tecnologia da escrita. Nesse momento, a
professora destaca a influência da psicogênese da língua escrita, cujas
pesquisas apontam a necessidade de a criança aprender a ler e escrever por meio
de práticas e materiais reais de leitura e escrita. A especialista defende que
alfabetização e letramento envolvem duas aprendizagens distintas, mas que devem
ocorrer de forma articulada, o que denomina como alfabetizar
letrando. A educadora sublinha ainda o papel da literatura
infantil e da cultura lúdica no processo de letramento da criança.
Magda Soares defende o trabalho específico de ensino do Sistema de
Escrita Alfabética em práticas de letramento, desse modo fazendo a distinção
entre um e outro. Alfabetização e
letramento. O primeiro corresponde à ação de ensinar aprender a ler e escrever,
enquanto o segundo seria considerado como um estado ou condição de quem não
apenas sabe ler, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita.
Como afirmado por ela: alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não
inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja,
ensinar a ler escrever no contexto das práticas sociais da leitura e escrita de
modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado
(Soares, 1998, p. 47).
Segundo Emilia Ferreiro, a construção do conhecimento da leitura e da
escrita tem uma lógica individual, embora aberta à interação social, na escola
ou fora dela. No processo, a criança passa por etapas, com avanços e recuos,
até se apossar do código linguístico e dominá-lo. O tempo necessário para o
aluno transpor cada uma das etapas é muito variável. Duas das consequências
mais importantes do construtivismo para a prática de sala de aula são respeitar
a evolução de cada criança e compreender que um desempenho mais vagaroso não significa
que ela seja menos inteligente ou dedicada do que as demais. Outra noção que se
torna importante para o professor é que o aprendizado não é provocado pela
escola, mas pela própria mente das crianças e, portanto, elas já chegam a seu
primeiro dia de aula com uma bagagem de conhecimentos. “Emilia mostrou que a
construção do conhecimento se dá por sequências de hipóteses”, diz Telma Weisz.
De acordo com a teoria exposta em Psicogênese da
Língua Escrita, toda criança passa por quatro fases até que esteja
alfabetizada:
• pré-silábica: não consegue relacionar as
letras com os sons da língua falada;
• silábica: interpreta a letra a sua maneira,
atribuindo valor de sílaba a cada uma;
• silábico-alfabética: mistura a lógica da fase
anterior com a identificação de algumas sílabas;
• alfabética: domina, enfim, o valor das letras
e sílabas.
O princípio de que o
processo de conhecimento por parte da criança deve ser gradual corresponde aos
mecanismos deduzidos por Piaget,
segundo os quais cada salto cognitivo depende de uma assimilação e de uma
reacomodação dos esquemas internos, que necessariamente levam tempo. É por
utilizar esses esquemas internos, e não simplesmente repetir o que ouvem que as
crianças interpretam o ensino recebido. No caso da alfabetização, isso implica
uma transformação da escrita convencional dos adultos. Para o construtivismo,
nada mais revelador do funcionamento da mente de um aluno do que seus supostos
erros, porque evidenciam como ele “releu” o conteúdo aprendido. O que as crianças
aprendem não coincide com aquilo que lhes foi ensinado.
Ressalta Telma Weisz que antigamente todos tinham a ideia de que
ensinar era transmitir informações. Nos últimos 30 anos, quando começamos a
descobrir que ensinar é criar condições e situações para a aprendizagem e
quando os professores ouviram falar, sem aprofundamento, que as crianças
constroem seu conhecimento, muitos acharam que bastava o contato com as letras
e o material escrito para que o conhecimento aparecesse naturalmente, por
geração espontânea. Na verdade, o aprendizado se efetiva nas interações sociais,
quando se há uma relação com objeto da aprendizagem mediado pelo outro.
Para Vygotsk,y a aprendizagem é, então, entendida como aquilo que é
apropriado e internalizado nas relações sociais estabelecidas no grupo. Segundo
Vygotsky para instruir ou ensinar uma criança
faz se necessário que se conheça aquilo que ela sabe fazer sozinha, ou seja sem
ajuda do outro. A esse patamar evolutivo dá-se o nome de nível de
desenvolvimento real (NDR). Há também que se considerar outro aspecto: aquilo
que a criança ainda não realiza por si mesma, mas que o faz mediante auxílio de
outro definido por Vygotsky como nível de desenvolvimento próximo (NDP). O
conceito de zona de desenvolvimento próximo diz respeito a “distancia” entre o
nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento próximo (ZDP): entre
aquilo que a criança já faz de forma independente e aquilo que para ser solucionado
preciso da intervenção do outro.
Referencias: Revista Viver
Mente & Cérebro. Memória da Pedagogia. Ediouro, São Paulo, 2005.