A escola para se desvencilhar da divisão do trabalho de sua fragmentação e do controle hierárquico, precisa criar condições para gerar outra forma de organização do trabalho pedagógico. A reorganização da escola deverá ser buscada de dentro para fora. O foco de realização será o empenho coletivo na construção de um Projeto Político Pedagógico e isso implica fazer rupturas com o que já existe para poder avançar.
O Projeto é: Político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade. Pedagógico no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos sua e intencionalidade.
Nesse sentido deve considerar o P.P.P. como um processo permanente de reflexão e discussão dos problemas da escola e na busca de alternativas viáveis a efetivação de sua intencionalidade. Para tanto, ela precisa de um tempo razoável de reflexão e ação para ter o mínimo necessário para a consolidação de sua proposta.
A construção de um P.P.P. requer continuidade das ações, descentralização, democratização do processo de tomada de decisões e instalação do processo coletivo de avaliação de cunho emancipatório.
Finalmente há que se pensar que o movimento de luta e resistência dos educadores é indispensável para ampliar as possibilidades e apresentar as mudanças que se fazem necessárias dentro e fora dos muros das escolas.
O Projeto Político Pedagógico ao se constituir em processo democrático de decisões busca instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizado da democracia que permeia as relações de trabalho no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentários da divisão de trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão.
Desse modo o P.P.P. tem a ver com a organização do trabalho pedagógico em dois níveis: organização da escola como um todo e com a organização da sala de aula, incluindo a sua relação com o meio social imediato, procurando preservar a visão de totalidade.
A principal possibilidade de construção do P.P.P. passa pela relativa autonomia da escola e pela sua capacidade delinear sua própria identidade. Isso significa resgatar a escola como espaço público, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva.
Têm-se como princípios norteadores do Projeto Político Pedagógico:
a) Igualdade de condições de acesso e permanência na escola;
b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias econômicas e sociais;
c) Gestão democrática;
d) Liberdade e autonomia;
e) Valorização do magistério.
A construção de um P.P.P. para gestar uma nova organização do trabalho pedagógico passa pela reflexão sobre estes princípios. Num segundo momento, parte-se da reflexão sobre os elementos constitutivos da organização do projeto, quais sejam:
a) As finalidades da escola.Das finalidades estabelecidas da legislação em vigor, o que a escola persegue com maior ou menor intensidade?
Como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a de preparar culturalmente os indivíduos para uma melhor compreensão da sociedade em que vive?
Como a escola procura atingir sua finalidade política e social ao formar o indivíduo para a participação política?
Como a escola atinge sua finalidade de formação profissional, ou melhor, como ela possibilita a compreensão do papel do trabalho na formação profissional do aluno?
Como a escola analisa sua finalidade humanística ao procurar promover o desenvolvimento integral da pessoa?
b) A estrutura organizacionalO que sabemos da estrutura pedagógica? Que tipo de gestão está sendo praticada? O que queremos e precisamos mudar em nossa escola? Qual é organograma previsto? Quem o constitui e qual é sua lógica? Quais as funções educativas dominantes? Como são vistas a constituição e a distribuição do poder? Quais os fundamentos regimentais?
c) O currículoO currículo não é um instrumento neutro, passa ideologia. Ele não pode ser separado do contexto social. Ele deve contemplar a interdisciplinaridade. Deve ser estruturado de forma a veicular contestação e resistência aos conteúdos tradicionais.
d) O tempo escolarQuanto mais compartimentado for o tempo (calendário escolar, distribuição diárias das atividades, etc.), mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais, reduzindo, também, as possibilidades de se institucionalizar o currículo de integração que conduz a um ensino em extensão. Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se necessário que a escola reformule seu tempo, estabelecendo períodos de estudos e reflexão da equipe de educadores fortalecendo a escola como instância de educação continuada.
e) O processo decisão
Uma estrutura administrativa da escola, adequada à realização de objetivos educacionais de acordo com os interesses da população, deve prever mecanismos que estimulem a participação de todos no processo de decisão.
f) As relações de trabalhoHá uma correlação de forças e, é nesse embate que originam os conflitos, as tensões, as rupturas, propiciando a construção de novas formas de relações de trabalho com espaço aberto a reflexão coletiva que favorece o diálogo, a comunicação horizontal entre os diferentes segmentos envolvidos no processo educativo, a descentralização do poder.
g) A avaliação
A avaliação é um ato dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao Projeto Político Pedagógico. Ela, também, imprime uma direção as ações dos educadores e educandos.
O processo de avaliação envolve três momentos: a descrição e problematização da realidade escolar, a compreensão crítica da realidade descrita e problematizada e a proposição de alternativas de ação, momento de criação coletiva.
Referência: Ilma Passos Alencastro Veiga